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quinta-feira, 17 de março de 2011

Morangos Mofados- Caio Fernando Abreu

O livro “Morangos Mofados” foi a quarta obra de Caio Fernando Abreu, o escritor contemporâneo,publicada em 1982;
Comecemos pela criação: O livro foi desenvolvido com a analogia da música “Strawberry Fields Forever” (The Beatles), como conta em uma carta ao amigo Dalton Trevisan; Para uma melhor compreensão:
Os meninos de Liverpool (Inglaterra) surgiram na década de 60, descobertos exatamente no ano de 1962 pelo empresário Brian Epstein e em seguida assinaram um contrato com a gravadora E.M.I.
Foram responsáveis pela invasão do Rock Britânico nos Estados Unidos. Betles é considerado o maior grupo de sucesso da história; com mais de 1bilhão e meio de álbuns vendidos no mundo.
O grupo de Rock influenciou jovens com seus cortes de cabelos, roupas e consciência social; então era adquirido qualquer tipo de material que falasse sobre a banda; não apenas discos.
Em 1965, lançaram a música “Help” que marcou o fim da beatlemania e a pressão que sofriam para atender aos fãs e à gravadora.
O declínio da banda surgiu em 1967 com a morte do empresário, e apesar de terem bons trabalhos realizados, não conseguiam pagar as dívidas com a nova gravadora, Aple.
A separação do grupo foi anunciada oficialmente em 1970, quando John Lennon declarou : “O sonho acabou” E seus ex-integrantes iniciaram carreiras solos de grande sucesso.

O livro conta de outro assunto, e foi escrito um artigo de Heloísa Buarque de Holanda no Jornal do Brasil em 24 e 31/10/1982. Eu li o artigo e consegui tirar algumas conclusões, foi mais uma fonte do meu trabalho.
Na verdade, é uma história que se passou no Rio de Janeiro, no Teatro Ipanema; foi a peça “Hoje é dia de Rock” na primavera-verão de 1971 e permaneceu em cartaz até 1973 e foi um fenômeno de público raro em toda a história do Teatro Brasileiro.
A peça conta a história de uma família mineira que vivia o conflito entre o tradicional e o moderno; o ficar e o partir.Simbolizava esta tensão entre o desejo de “permanecer fiel” às origens e o de conhecer outros lugares, em especial cidades grandes.
Protagonista: Pedro, o pai, músico e maestro da banda, que perseguia um alvo místico da procura de uma clave de cinco notas ainda não descoberta, durante todo o decorrer da peça;
A mesma resgatava em partes a imagem de Elvis Presley, e a fé que orientou o sonho, cujo primeiro grande impulso vem dos “rebeldes sem causa” de Elvis e Dean, que se define depois como “a grande causa” da sociedade tecnocrática pelo som dos Beatles e Rolling Stones; e ganha uma forma inesperada, uma nova e mágica força no momento em que John Lennon declara drasticamente: “O sonho acabou”.
O livro fala desse tempo, de seus atores, expectativas e resultados dessa viagem, e da “outra opção” da viagem dessa geração e a luta armada. Que pode se entender como um momento transitório entre os tempos tradicionais e modernos.
O que chama a atenção no livro é que o autor tem um certo cuidado, uma enorme delicadeza em lidar com a matéria da EXPERIÊNCIA EXISTENCIAL DA QUAL FALA.
E não esconde a perplexidade diante da falência de um sonho e da certeza que é fundamental encontrar uma saída capaz de absorver, agora sem a antiga fé, a riqueza de toda essa experiência.Caio relata uma crise da contracultura como um projeto existencial e político; de uma maneira que o que se passa é uma dor incerta ao lado de um gosto de morangos mofando.
Se “ Hoje é dia de Rock” a força da crença no valor absoluto da utopia que é um (plano fora da realidade)iluminava a saída para a fronteira, os morangos de Caio com uma maior atualidade e modificando caminhos percorridos, põem em cena um possível pontuação para esta história, ou como esclarece em “Os companheiros”: “Uma história nunca fica suspensa, ela se consuma no que se interrompe, ela é cheia de pontos finais.” Um desses pontos finais, que parece ser o tema do livro, é a morte de Lennon.E esta morte é reveladora no livro, através de longos corredores, com difíceis contatos, gestos repetidos, e um entendimento entre desconhecidos como é relatado no conto “O dia em que Júpiter encontrou Saturno”
O eixo é o gosto renitente de um mofo que se espalha no ar, e em “background” a música de Lennon e Paul McCartney.
O “conto – chave” do livro é “Sobreviventes” e diz em um trecho:
“Bolsas de Sorbonne, chás com Simone de Beauvouir e Jean- Pal nos anos 50, em Paris; 60 em Londres ouvindo here comes the Sun, little Darling, 70 em Nova York dançando disco-music no Studio 54; 80 a gente aqui, mastigando essa coisa sem conseguir engolir nem cuspir fora este gosto azedo na boca.” No conto título do livro, uma última e inútil tentativa de socorrer Lennon, um adeus às fantasias apocalípticas e, a clareza quanto à urgência de um novo projeto (sonho) que inclui um acerto de contas com o real.

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